Servidores públicos estão sob assédio constante de ofertas de crédito — consignado, pessoal, cartão, cheque especial. No vídeo, o Dr. Fernando Ferreira, especialista em direito bancário e mercado de capitais do Rodrigues Ferreira Advogados (RFADVS), expõe por que isso acontece, como esse ciclo se instala e quais são as saídas jurídicas e estratégicas para reequilibrar a renda e negociar de maneira mais justa. Ao final, você saberá como interromper o refinanciamento infinito e recuperar fôlego financeiro com segurança jurídica.
O que torna o servidor público um alvo “perfeito”
O fator central é a estabilidade da folha de pagamento. Como o salário cai todos os meses, bancos e financeiras enxergam risco reduzido e intensificam a oferta de crédito — muitas vezes com condutas agressivas, principalmente com aposentados e pensionistas.
“O banco sabe que o salário do servidor vai entrar todo santo mês, então as ofertas de crédito se tornam insistentes — e, muitas vezes, abusivas.”
- Estabilidade de renda → risco percebido menor para o banco.
- Assédio comercial → ligações, mensagens e propostas “irrecusáveis”.
- Refinanciamentos sucessivos → aumentam o saldo devedor ao longo do tempo.
Como o ciclo do endividamento se forma
Sem reposição salarial compatível com a inflação, o poder de compra cai. Para cobrir itens essenciais (moradia, alimentação, saúde, educação, transporte), o servidor recorre a consignados, pessoais, cartão e cheque especial. A cada novo fôlego, a dívida cresce, o estresse aumenta e o orçamento colapsa.
- Descompasso renda x custo de vida → uso crescente de crédito.
- Juros e encargos → dívida consolidada maior após cada “troco”.
- Impacto emocional → ansiedade, adoecimento e perda do controle financeiro.
“Refinanciar para ‘sobrar um troco’ é cavar mais fundo o buraco — a dívida duplica, às vezes triplica.”
Armadilhas que você deve evitar
- Refinanciamentos constantes: parecem aliviar, mas elevam o saldo total devido.
- Ofertas “disfarçadas” de benefício: travam parte do salário por anos.
- Cartão consignado/RMC e produtos “milagrosos”: alimentam a dívida infinita.
- Comprometimento excessivo da renda: casos chegam a 100% — inclusive só com consignado.
“Não mergulhe mais fundo no buraco. O objetivo é sair dele com técnica e estratégia.”
Negociar de forma mais justa: por onde começar
1) Diagnóstico completo do seu passivo
Mapeie renda líquida, despesas essenciais e todas as dívidas (consignadas e não consignadas). Reúna contracheques, contratos, extratos e comprovantes de gastos básicos.
2) Pare de “trocar dívida por dívida”
Suspender o reflexo de refinanciar é crucial para estancar o aumento do saldo. Foque em uma estratégia global, que reduza parcelas e juros, em vez de empurrar o problema adiante.
3) Use os instrumentos corretos
- Limitação de descontos (consignados): quando o consignado consome além do razoável, busca-se judicialmente limitar os descontos mensais para patamar que preserve o mínimo existencial (em geral, na casa de 30%–35% da renda líquida, conforme o caso).
- Gestão do passivo não consignado: cartões e cheque especial comportam renegociações técnicas para queda de juros e reestruturação do pagamento.
Solução jurídica: Lei do Superendividamento (CDC)
Em vigor desde 2021, a Lei do Superendividamento permite a repactuação global de dívidas de consumo (consignadas e não consignadas) quando o conjunto das obrigações inviabiliza o custeio do essencial. O objetivo é construir um plano sustentável, com participação dos credores, reduzindo a carga mensal para um patamar viável (frequentemente entre 30% e 35% da renda líquida, a depender do cenário concreto).
- Benefícios práticos: reorganização do passivo, queda de parcela/juros e preservação do mínimo existencial.
- Quando aplicar: se a soma das dívidas ultrapassa a sua capacidade de pagamento e compromete despesas básicas.
- Papel do RFADVS: análise técnica, documentação robusta e condução do procedimento para alcançar um acordo exequível.
Importante: Para consignados “dentro” da margem formal, mas que ferem a dignidade por sufocar o orçamento, avalia-se a via de limitação de descontos. Já quando há múltiplas dívidas e o conjunto ultrapassa a capacidade de pagamento, ganha força a repactuação pela Lei do Superendividamento.
Roteiro prático recomendado pelo RFADVS
- Liste todas as dívidas e marque quais são consignadas.
- Calcule o comprometimento da renda: se passar de ~35%, acenda o alerta.
- Separe documentos: contracheques, contratos, extratos, comprovantes de despesas essenciais.
- Defina a via: limitação de descontos (quando consignados sufocam) e/ou repactuação global pela Lei do Superendividamento.
- Implemente o plano com acompanhamento técnico até a estabilização do orçamento.
Conclusão
Você não precisa aceitar o refinanciamento eterno nem o comprometimento sufocante da sua renda. Com análise técnica e os instrumentos certos — limitação de descontos, gestão do passivo e Lei do Superendividamento — é possível negociar com justiça, pagar o que é devido e recuperar a qualidade de vida. Estabilidade no cargo deve andar junto de estratégia jurídica.
Sobre o Dr. Fernando Ferreira
Advogado especialista em direito bancário e mercado de capitais, sócio do Rodrigues Ferreira Advogados (RFADVS). Possui ampla experiência na defesa de consumidores e servidores públicos endividados, com foco na aplicação da Lei do Superendividamento e gestão estratégica de passivo bancário.
